O uso de tecnologias baseadas em IA pode oferecer análises mais precisas sobre a saúde mental nas empresas, o que também levanta preocupações éticas importantes. Entenda!
O debate sobre saúde mental nas empresas ganhou força nos últimos anos e, com o avanço das tecnologias de Inteligência Artificial (IA), novos caminhos têm surgido para apoiar diagnósticos e ações de bem-estar.
Segundo uma meta-análise publicada na Revista Ciência & Saúde Coletiva, a prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) entre trabalhadores brasileiros foi estimada em cerca de 30%, considerando 56.278 profissionais de 26 categorias diferentes. O dado evidencia um impacto direto na produtividade e na qualidade de vida no trabalho.
Por isso, o uso de IA tem servido como ferramenta de apoio aos profissionais da área, ajudando a identificar padrões, acompanhar comportamentos e otimizar estratégias de cuidado dentro das organizações corporativas, ou seja, onde mais se concentram e originam casos.
IA na saúde corporativa: quais os usos possíveis?
É preciso deixar claro que a presença da IA na gestão de saúde corporativa vai além da automação de processos.
Ela pode atuar como aliada na coleta e análise de dados, apoiar o acompanhamento de indicadores de estresse, de engajamento e até do bem-estar emocional.
Tudo por meio de algoritmos preditivos e plataformas de monitoramento, gestores de RH e equipes de saúde podem detectar sinais de esgotamento e agir de forma preventiva.
Para deixar claro, entre os principais usos da IA na saúde corporativa, temos hoje:
- Mapeamento de fatores de risco psicossociais;
- Monitoramento contínuo de clima organizacional;
- Apoio à triagem e encaminhamento para atendimento psicológico;
- Geração de relatórios personalizados sobre bem-estar e produtividade;
- Análise preditiva de afastamentos relacionados à saúde mental.
Aplicações que, quando alinhadas à atuação humana, permitem decisões mais assertivas, além de criar e implementar programas de cuidado mais efetivos dentro das empresas.

Ferramentas de monitoramento emocional e comportamento
Voltadas ao monitoramento emocional, as ferramentas utilizam dados como tom de voz, padrões de escrita e expressões faciais (em reuniões virtuais, por exemplo) para avaliar o estado emocional dos colaboradores.
Os softwares desse tipo podem identificar indícios de estresse, ansiedade e desmotivação, oferecendo ainda alertas para que o RH e os profissionais de saúde mental intervenham antes que o quadro se agrave.
Outros exemplos de soluções incluem plataformas de People Analytics integradas a sistemas de comunicação corporativa e dashboards de bem-estar com indicadores em tempo real.
Essas tecnologias têm caráter complementar e não substituem a atuação de um profissional qualificado, funcionando apenas como apoio à análise e ao acompanhamento humano.
Também é necessário atenção aos riscos do uso de IAs para terapia, já que ferramentas como o ChatGPT não possuem formação profissional nem são capazes de oferecer o acolhimento e a escuta qualificada de um psicólogo.
Riscos e limites do uso da IA no diagnóstico de saúde mental nas empresas
Como adiantamos, apesar dos avanços, é fundamental entender que a IA não deve ser usada como substituta de um diagnóstico médico ou psicológico.
Por diversas razões, sendo uma delas o fato de que os algoritmos não possuem sensibilidade humana e podem apresentar vieses de análise resultantes em interpretações equivocadas.
Quando mal aplicadas, essas ferramentas digitais podem inclusive agravar quadros emocionais por falta de contexto, empatia e acompanhamento especializado.
Falta de sensibilidade emocional e risco de vieses
Outra questão é que a IA depende de dados para gerar análises e esses dados refletem padrões preexistentes, que podem carregar distorções.
Por exemplo, um sistema treinado com amostras limitadas pode não reconhecer sinais sutis de sofrimento emocional em diferentes perfis de colaboradores.
Além disso, a ausência de empatia humana impede uma compreensão profunda das causas do adoecimento psíquico, tornando o suporte incompleto se for conduzido apenas por IAs.
Ética, privacidade e consentimento
Outro ponto sensível envolve a coleta e o tratamento de dados pessoais.
É de conhecimento público que o monitoramento emocional e comportamental deve respeitar os princípios da Lei Geral de Proteção de Dados (a LGPD), para garantir consentimento explícito, o anonimato e o uso responsável das informações.
Para tanto, o RH precisa assegurar que as ferramentas tecnológicas sejam utilizadas com ética e transparência, preservando a confiança entre empresa e colaborador.
Como a NR-1 pode orientar ações sobre saúde mental nas empresas?
Como a norma estabelece as diretrizes gerais de gestão de segurança e saúde no trabalho, suas atualizações incluem a obrigatoriedade de avaliar riscos psicossociais, o que abrange a saúde mental.
Isso significa que as empresas devem identificar, registrar e acompanhar fatores relacionados a estresse, assédio, sobrecarga e desequilíbrio emocional como parte do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
Por isso, integrar a saúde mental a essas ações é garantir conformidade legal e um ambiente de trabalho mais seguro e sustentável.
Pois como mencionado, a IA pode apoiar essa estrutura ao automatizar o registro de indicadores, gerar relatórios preditivos e facilitar o monitoramento contínuo de condições que afetam o bem-estar dos colaboradores.
Claro, sempre com supervisão humana e ética profissional.
O cuidado com a saúde mental nas empresas pode aproveitar a IA como grande aliada no mapeamento e na prevenção de riscos, desde que usada com responsabilidade, ética e alinhada às diretrizes da NR-1.
