Qualidade de vida no trabalho

Os riscos do uso de IAs/ChatGPT para a realização de terapia

Renata Tavolaro - Head de Psicologia da orienteme e autora de autoridade em psicologia

Escrito por Renata Tavolaro

Head de Psicologia da orienteme | Psicóloga CRP 06/39083
Pós Graduada em Gestão de Pessoas e Terapia online/PUC, MBA em Gestão Estratégica/FGV com mais de 30 anos no atendimento psicoterapêutico presencial e online. Atuação com terapia cognitivo comportamental e programação neurolinguística.

A popularização da terapia com IA pode parecer uma boa ideia, mas na verdade só oferece mais riscos ainda à saúde mental. Entenda como!

Talvez já tenha ouvido alguém dizer que testou ou está fazendo terapia com IA, e por mais que a alternativa soe curiosa para quem busca desabafar ou receber orientações rápidas sobre questões emocionais, é extremamente problemático recorrer a isso.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), para cada 100 mil pessoas, existem apenas 13 profissionais da saúde mental, o que faz com que muitas regiões pelo mundo encontrem dificuldade no acesso à terapia. Se pensarmos na pandemia da Covid-19, na ocasião, foi quando esse dado ficou mais evidenciado.

O que fez com que muitas pessoas passassem a improvisar com IAs, sendo o GPT o mais acessado para esse uso. Não que seja mais “competente”, nenhum deles é até porque nenhum deles foi feito para isso.

Os problemas da terapia com IA

A psicologia humana tem relação intrínseca à experiência humana, e pra mostrar o quão grave é se “consultar” com os robôs da atualidade, separamos alguns pontos que precisa saber.

terapia com IA

O falso acolhimento e a necessidade de te agradar

Os modelos de IA foram treinados para oferecer respostas agradáveis e manter o engajamento

O que cria uma sensação de acolhimento superficial, que mascara a falta de profundidade e crítica necessária em um processo terapêutico necessário, afinal, muitas vezes trata-se de correção de hábitos.

Ali, a pessoa não é um paciente, e sim um usuário que sente que está sendo compreendido, sendo que, na prática recebe apenas um reflexo do que deseja ouvir, não uma ajuda objetiva ao problema.

As limitações da IA no lugar do terapeuta

O primeiro ponto já denota uma limitação, só que existem outras.

Um terapeuta humano analisa as nuances, interpreta os sinais não verbais da pessoa e adapta abordagens ao contexto de cada um.

Já a IA funciona dentro de padrões preestabelecidos, sem flexibilidade real. Uma limitação que gera respostas simples para problemas complexos, colocando ainda mais em risco a saúde do usuário.

Só para evidenciar algumas coisas que a IA não é capaz de fazer por um usuário:

  • Ver e notar expressões faciais sutis (microexpressões que revelam emoções profundas).
  • Ouvir o tom de voz e entonação que demonstram hesitação, tristeza ou ansiedade.
  • Notar os silêncios significativos que podem carregar mensagens implícitas.
  • Observar gestos corporais involuntários como tremores, inquietação ou retraimento.
  • Ter noção de contexto cultural e histórico de vida da pessoa analisada.
  • Contradições emocionais entre o que a pessoa diz e o que demonstra.
  • Mudanças sutis de humor percebidas pela convivência e repetição das sessões.
  • Impacto das relações interpessoais além do relato verbal.
  • Considerar os valores, crenças e subjetividades únicas que fazem a experiência do paciente.
  • Ter empatia genuína e o vínculo, pontos fundamentais para o processo terapêutico.

Ausência de escuta crítica

Como dissemos antes, uma das limitações é a ausência de escuta crítica.

Quer dizer questionar crenças e avançar na jornada pessoal. Algo que a IA, por outro lado, não confronta, não lida com realidades distorcidas, apenas replica padrões linguísticos e, assim, não torna possível incentivar uma transformação através do autoconhecimento.

Ah, e vale fazer uma diferenciação, não confunda terapia com ia com terapia online, essa segunda é a terapia real, com uma pessoa acompanhando mesmo, apenas feita de maneira remota.

Falta de técnicas clínicas validadas

Os profissionais da saúde mental baseiam sua prática em técnicas validadas cientificamente. Já a “terapia com IA” não aplica protocolos clínicos, apenas gera respostas probabilísticas e, mais comumente, programadas para agradar o usuário.

O resultado é uma interação sem fundamentação terapêutica real. Enquanto terapeutas e psicólogos foram formados para identificar a necessidade de propor e acompanhar abordagens de vários tipos. Só para citar algumas:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
  • Psicoterapia Psicodinâmica
  • Mindfulness Terapêutico
  • Terapia de Exposição 
  • Entrevista Motivacional

Reforçam de padrões nocivos

Ao repetir frases genéricas ou validar sem crítica relatos do usuário, a IA pode, involuntariamente, reforçar comportamentos prejudiciais, assim como já ficou comprovado que replica preconceitos e generalizações.

O problema de reforçar esses padrões é especialmente grave em casos como o de depressão, ansiedade ou risco de automutilação, em que a ausência de intervenção correta pode colocar uma vida em risco.

Como as empresas podem ajudar a evitar isso?

Considerando que o ambiente de trabalho é um dos principais espaços em que a saúde mental precisa ser valorizada, o papel das empresas é garantir condições adequadas e oferecer apoio psicológico REAL, e não depender ou incentivar soluções improvisadas, ou superficiais.

Sobre isso, a legislação trabalhista evoluiu para reconhecer a importância da saúde mental no trabalho, de modo que a nova NR1 existe para reforçar a responsabilidade das empresas em mapear riscos psicossociais e oferecer suporte efetivo.

O que significa adotar (implementar) práticas que priorizem o bem-estar, desde programas de prevenção até acesso a profissionais qualificados. Dá pra dizer que o apoio psicológico real não é apenas uma obrigação legal, mas um diferencial competitivo para empresas que querem manter equipes engajadas e saudáveis.

Como pôde ver a terapia com IA pode até parecer uma solução rápida, mas não substitui o acompanhamento de profissionais especializados. Se deseja condições laborais saudáveis de verdade e não sabe por onde começar, um ótimo primeiro passo é ler nossa página sobre a NR-1.

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