Descubra qual o processo correto para diagnosticar uma pessoa neurodivergente
A neurodiversidade, termo que descreve a variação natural das funções cerebrais entre as pessoas, têm ganhado cada vez mais espaço em discussões sobre saúde mental e desenvolvimento humano. Entretanto, mesmo com o tema em alta, muitas pessoas ainda não sabem como é feito o diagnóstico de neurodivergência.
Esse processo pode ser complexo e demanda uma análise de comportamentos, habilidades cognitivas e sintomas específicos. Nos últimos anos, houve um aumento significativo nos diagnósticos de condições neurodivergentes, como autismo e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), refletindo uma maior conscientização e melhor acesso a profissionais capacitados.
O que é neurodivergência?
Neurodivergência se trata de uma diferença no funcionamento do cérebro em relação ao que se considera neurotípico, ou seja, dentro dos padrões de normalidade neurológica. Essa variação pode se manifestar em diversas áreas, como a forma de pensar, aprender, processar informações e interagir socialmente.
O conceito é parte de uma visão inclusiva e humanizada das diferenças cognitivas, evitando classificações negativas ou patologizantes. Ao invés de serem vistas como distúrbios, essas diferenças são reconhecidas como parte da diversidade humana.
As neurodivergências mais conhecidas incluem o autismo, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), dislexia, discalculia, Transtorno do Processamento Sensorial, entre outras.
Cada uma dessas condições apresenta características próprias, como dificuldades na comunicação, no aprendizado ou em habilidades motoras. Contudo, é importante ressaltar que uma pessoa neurodivergente pode ter múltiplas condições concomitantes, o que pode tornar o diagnóstico mais complexo.
Leia também: O que é Neurodivergente? Exemplos, sinais e principais dúvidas!
Primeiros sinais e sintomas
A neurodivergência pode se manifestar de formas diferentes, dependendo da condição, e os primeiros sinais podem variar bastante entre crianças e adultos. No entanto, há algumas características comuns que servem como indicativos de que algo merece atenção.
Confira abaixo os principais sintomas e sinais que devem se ter atenção para diagnosticar um neurodivergente.
Dificuldades na comunicação e interação social
Um dos sinais mais evidentes de neurodivergência, especialmente no autismo, é a dificuldade em interagir socialmente e se comunicar de forma convencional.
Crianças podem evitar o contato visual, ter dificuldades para interpretar expressões faciais ou até mesmo apresentar atraso na fala.
Já em adultos, os sinais tendem a ser mais sutis, como a dificuldade em manter conversas fluidas ou em interpretar nuances sociais, como o tom de voz ou sarcasmo.
Dificuldades de aprendizado
Condições como dislexia e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) são frequentemente associadas a desafios no aprendizado. A dislexia, por exemplo, afeta a capacidade de decodificar palavras, o que impacta diretamente a leitura e a compreensão de textos.
No caso do TDAH, a falta de atenção, desorganização e impulsividade podem prejudicar o desempenho escolar ou profissional, dificultando o foco em tarefas que demandam concentração prolongada. O diagnóstico precoce é fundamental para mitigar os impactos no desenvolvimento.
Comportamentos atípicos
Movimentos repetitivos, como estereotipias (comuns no autismo), hiperatividade ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais são comportamentos típicos associados à neurodivergência.
No TDAH, por exemplo, a impulsividade pode se manifestar como uma incapacidade de esperar sua vez ou de se manter sentado por muito tempo.
Esses comportamentos, que muitas vezes destoam do que é considerado “típico” para uma determinada faixa etária, podem ser mal interpretados como indisciplina ou falta de interesse, quando na verdade indicam a presença de uma condição neurodivergente.
O processo de diagnóstico de neurodivergência
O processo de diagnóstico de neurodivergência começa geralmente com a observação dos primeiros sinais – você pode conferir no tópico anterior – que podem variar de acordo com a idade e a condição. Esses sinais podem ser notados por pais, professores ou até pelo próprio indivíduo.
Quando há suspeita de neurodivergência, o passo inicial é buscar ajuda profissional para uma avaliação especializada. Essa avaliação envolve várias etapas, desde entrevistas e questionários até testes de desenvolvimento e habilidades cognitivas. O objetivo é entender como o indivíduo processa informações, interage socialmente e lida com suas atividades cotidianas.
Após essa fase inicial de avaliação, um diagnóstico completo envolve a colaboração entre diferentes profissionais de saúde, que analisam os resultados de maneira conjunta.
Cada um dos tipos de neurodivergência possui critérios específicos para o diagnóstico. Esse processo detalhado é necessário para um diagnóstico correto e para a criação de um plano de intervenção personalizado, que atenda às necessidades individuais e auxilie no desenvolvimento de habilidades e na superação de desafios.
A importância de uma avaliação multidisciplinar
O diagnóstico de neurodivergência é processo que requer a participação de uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, entre outros profissionais.
Essa abordagem é fundamental para uma avaliação e diagnóstico corretos, já que as neurodivergências podem se manifestar de diversas formas e em diferentes áreas da vida de uma pessoa.
Testes e instrumentos utilizados
Diversos testes e instrumentos são utilizados para identificar sinais de neurodivergência. No caso do autismo, por exemplo, é comum a utilização de escalas de desenvolvimento infantil e questionários específicos para avaliar a interação social e a comunicação.
Para o diagnóstico de TDAH, são realizados testes de atenção, além de entrevistas com pais e professores para entender o comportamento da criança em diferentes contextos. Já na dislexia, avaliações da fluência de leitura e compreensão textual são essenciais.
O papel do profissional de saúde mental
Os profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, desempenham um papel muito importante no diagnóstico de neurodivergências.
Além de aplicar testes psicológicos e cognitivos, eles são responsáveis por analisar o histórico do paciente, levando em consideração fatores genéticos, ambientais e emocionais.
Esses profissionais também ajudam a diferenciar uma condição neurodivergente de outros transtornos psiquiátricos que podem apresentar sintomas semelhantes, como ansiedade ou depressão.
Desmistificando o diagnóstico de neurodivergência
Muitas vezes, associa-se a ideia de diagnóstico de neurodivergência a algo negativo, como se ele representasse uma limitação ou defeito. No entanto, é necessário se livrar desse tipo de preconceito e mistificação, compreendendo que o diagnóstico não é uma sentença, mas sim uma ferramenta de compreensão e suporte.
Ao desmistificar o que significa ser neurodivergente, podemos alcançar um diagnóstico precoce e ter a oportunidade de tratar corretamente, além de reconhecer a diversidade do funcionamento neurológico.
Neurodivergência não é doença
Uma das principais barreiras enfrentadas por pessoas neurodivergentes é o estigma de que suas condições são doenças que precisam ser “curadas”. No entanto, a neurodivergência não é uma patologia.
Trata-se de uma diferença no funcionamento neurológico, que deve ser compreendida e respeitada. O diagnóstico não tem como objetivo rotular ou limitar a pessoa, mas sim proporcionar um melhor entendimento sobre suas necessidades e potencialidades.
O diagnóstico como ferramenta de empoderamento
Ao contrário do que muitos podem pensar, o diagnóstico de neurodivergência pode ser uma ferramenta importante. Ele permite que a pessoa compreenda melhor seu próprio funcionamento, ajudando-a a desenvolver estratégias para lidar com seus desafios.
Além disso, o diagnóstico é fundamental para garantir o acesso a recursos e serviços de apoio, como terapias ocupacionais, e adaptações no ambiente de trabalho com a psicologia organizacional e suporte educacional.