Qualidade de vida no trabalho

O que é ansiedade? Quais as causas? Quais os sintomas?

Daniela Haidar Chohfi -

A ansiedade é um distúrbio mental que afeta a vida de inúmeros brasileiros. Ela se manifesta como uma preocupação excessiva e intensa capaz de causar alterações físicas, mentais e comportamentais.

Apesar dela ser um transtorno comum entre os brasileiros, frequentemente é negligenciada. O problema é que seu agravamento pode ocasionar sintomas mais preocupantes e aumentar a probabilidade de desenvolver outras condições mentais, como a depressão.

Sendo assim, reunimos todas as informações essenciais sobre o assunto para que você consiga identificar se esse distúrbio afeta o seu dia a dia. Boa leitura!

O que é a ansiedade?

A ansiedade é um estado emocional que o corpo cria como resposta a situações de estresse. Ela causa tensão, preocupação, pessimismo, tremor e sensação de pânico.

Como ponto de partida, é importante compreender que ela por si só não é considerada uma condição mental. A sensação provocada, quando em um contexto controlado, nada mais é do que uma reação do corpo a situações cotidianas.

O problema surge quando ocorre o excesso dessa sensação. Ao ser potencializada e generalizada, pode vir a se tornar um quadro crônico. A partir daí, ela pode, sim, ser considerada uma doença.

Tudo depende da frequência e da intensidade dos sintomas. Inclusive, um quadro grave pode ser a “porta de entrada” para diversos transtornos como depressão, síndrome do pânico, transtornos alimentares, TOC, entre outros.

O que é transtorno de ansiedade?

O transtorno de ansiedade, também conhecido como ansiedade crônica, é uma doença causada pelo excesso de sensação de ânsia, medo e pânico — não necessariamente juntos.

Quando em níveis preocupantes, pode até mesmo causar invalidez por paralisia. Mas a intensidade dos sintomas varia de acordo com o grau e a condição de cada pessoa.

Em geral, esse distúrbio afeta diretamente a qualidade e estilo de vida da pessoa, o que pode dificultar a realização de atividades rotineiras, como ir ao trabalho e se exercitar.

E esse é um dos principais transtornos mentais do nosso país, seguido por depressão e burnout, que foram potencializados pela pandemia. Estima-se que no Brasil há 19 milhões de pessoas que sofrem com algum nível dessa situação mental, segundo a OMS.

Ainda com base nesses dados, existe uma previsão de que 264 milhões de pessoas possuem transtorno de ansiedade no mundo. E o Brasil fica em primeiro lugar da lista.

Por que o Brasil é o país mais ansioso do mundo?

O estudo da OMS também cita alguns possíveis fatores que podem ser responsáveis pela alta quantidade de brasileiros ansiosos. Entre eles estão os comportamentos culturais de busca por ajuda e a organização dos serviços públicos voltados ao cuidado da saúde mental.

Ao conhecer essas duas motivações, é possível formular algumas hipóteses sobre a maneira que elas contribuem para o Brasil ser o país mais ansioso do mundo.

Os comportamentos culturais muito provavelmente estão relacionados ao preconceito em procurar atendimento psicológico, bem como pela falta de conscientização governamental. Já a organização precária dos serviços públicos possivelmente é consequência da falta de investimento.

O que acontece durante uma crise?

Vamos entender o que acontece neuroquimicamente no cérebro para que as pessoas fiquem ansiosas? O sistema límbico, que é parte integrante da circuitaria cerebral, inicia toda a cadeia química que induz a sensação de perigo e desespero.

No entanto, o hipocampo e a amígdala, que são partes do sistema emocional do cérebro, também atuam durante uma crise. O corpo entra em estado de excitação e o hipocampo se ativa, trazendo à tona memórias e experiências que amplificam os sintomas.

Por sua vez, a amígdala é quem “soa o alarme”, pois é a responsável por regular as emoções e por detectar possíveis ameaças.

Isso funciona como uma “defesa” do corpo, sendo que em um contexto “normal”, essa reação apenas serviria para que uma ação ruim não fosse repetida.

Por exemplo, imaginemos que você estivesse perto de pisar em uma colmeia de abelhas. Essa cadeia química seria ativada para não pisar na colmeia.

Após essa reação de alerta e defesa ter sido desencadeada, a amígdala aciona o hipotálamo. Ele induz a produção ou inibição de determinados hormônios e neurotransmissores, que promovem os sintomas do transtorno.

Quer saber mais detalhadamente o que é a ansiedade e qual a sua relação com o estresse e o medo? Assista ao TEDx da psiquiatra e escritora Dra. Ana Beatriz Barbosa:

Quais os tipos de transtorno de ansiedade?

É importante saber distinguir a emoção natural do transtorno preocupante. Como já dito, a ansiedade se manifesta de diversas formas e em diferentes gravidades. Por isso, há alguns distúrbios que, de certa forma, “derivam” dessa condição. A seguir, listamos os principais:

  • transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
  • agorafobia;
  • síndrome do pânico.

Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

O TAG se caracteriza pelo agravamento dos sintomas preocupação e inquietação, o que pode afetar a vida cotidiana das pessoas por meio da dificuldade de concentração, da insônia e do medo excessivo.

Nesse caso, somente a consulta com um psicólogo pode não ser suficiente para a amenização do quadro, sendo necessário o consumo de medicamentos. Mas, antes de iniciar a medicação, é preciso que um profissional especializado te encaminhe para um psiquiatra.

Agorafobia

Agorafobia é um tipo de preocupação intensa bem específica. Ela costuma se desenvolver quando a pessoa sofre um ou mais ataques de pânicos. Após essa experiência, cria-se um medo excessivo de estar em situações ou ambientes que possam causá-la novamente.

Os sintomas são bem característicos, o que ajuda no diagnóstico e, por sua vez, no tratamento precoce. Essa condição costuma ser tratada com psicoterapia, mas pode incluir a utilização de medicamentos em quadros mais graves.

Se não tratada com auxílio profissional especializado, ela pode afetar de maneira significativa as tarefas cotidianas e as relações de uma pessoa.

Síndrome do pânico 

O transtorno do pânico, ou ansiedade paroxística episódica, é um distúrbio mental que gera ataques de terror e desespero de forma repentina e potente. Pode causar sintomas muito perceptíveis como falta de ar, náusea e confusão mental devido à sua intensidade.

As crises podem durar horas e costumam acontecer quando a pessoa está passando por uma situação estressante ou desconhecida.

Assim como as outras condições, o tratamento é realizado por meio de psicoterapia, com a complementação de medicamentos em casos mais graves.

Quais as principais causas?

Não existe uma hipótese definitiva do que causa o transtorno. Porém, vários estudos clínicos e psicológicos indicam que alguns fatores podem aumentar a probabilidade do surgimento dessa condição:

  • predisposição genética;
  • fatores ambientais (condições dos ambientes em que a pessoa vive);
  • fatores sociais (valores, normas e estruturas que guiam os comportamentos da pessoa);
  • contexto familiar.

Quais são os sintomas?

Os sintomas são bem variáveis. Eles podem afetar cada indivíduo de uma maneira e se apresentarem em diferentes gravidades. Aliás, os principais sintomas podem ser classificados em três grupos. Veja:

Sintomas mentais

  • medo;
  • dificuldade para se concentrar;
  • insegurança;
  • tensão;
  • insônia; 
  • tristeza; 
  • irritabilidade.

Sintomas comportamentais

  • impulsividade;
  • agressividade; 
  • aceleração (fala acelerada e gesticulação).

Sintomas físicos

  • taquicardia; 
  • calafrios;
  • falta de ar;
  • sudorese (suor nas mãos);
  • tonturas;
  • dor de cabeça;
  • paralisia (em casos graves).

Os sintomas físicos costumam ser os mais assustadores, porque são extremamente perceptíveis. No entanto, os sinais de outros tipos também são preocupantes e devem ser tratados com auxílio profissional.

Quais são as principais consequências?

Esse transtorno afeta negativamente diversas áreas da vida de uma pessoa. Dito isso, separamos os principais impactos que ansiosos costumam sentir em suas rotinas. Confira abaixo! 

Relações interpessoais

O círculo familiar, profissional e de amizades são os que têm as relações mais afetadas pelas alterações mentais e comportamentais do ansioso. Sintomas como aceleração, pessimismo e irritabilidade podem tornar a convivência complicada.

Cabe à pessoa ansiosa procurar ajuda profissional e aos familiares, colegas e amigos serem compreensivos com a situação. Essa pode ser a única maneira de manter relações saudáveis.

Perspectiva individual e social

Ansiosos interpretam o mundo de uma forma diferente. Atividades e interações cotidianas são afetadas por emoções e percepções intensas, o que pode promover desconexão social, baixa autoestima, transtornos alimentares, entre outras consequências.

Desempenho acadêmico

Devido às alterações impostas na capacidade de atenção e de interpretação, pessoas ansiosas podem ter dificuldades em contextos que envolvem aprendizagem. Por isso, é possível que haja prejuízos no desempenho acadêmico e escolar.

Desempenho profissional

Outras características que costumam ser comuns aos ansiosos são as dificuldades para tomar decisões, lidar com pressão, cumprir com prazos e se comunicar. E esses aspectos podem afetar o desempenho profissional, uma vez que são necessários em ambientes de trabalho.

Por sua vez, os efeitos negativos na performance profissional podem desencadear sentimentos que agravam a ansiedade no trabalho, como síndrome do impostor, medo e insegurança.

Sendo assim, ressaltamos mais uma vez a necessidade da pessoa ansiosa buscar auxílio especializado para evitar que essa condição afete sua vida de diversas formas.

Também é importante que as empresas desenvolvam uma cultura de segurança psicológica. Isso consiste em construir um ambiente de trabalho confortável, acolhedor e psicologicamente seguro.

Assim, a organização pode conceber um espaço que não potencializa os sintomas da ansiedade. Além disso, é possível ter benefícios gerais, evitando a queda de produtividade dos colaboradores e o risco de acidentes.

Desempenho sexual

Os neurotransmissores responsáveis pela libido — popularmente conhecida como “desejo sexual” — também são afetados pelas alterações ocasionadas pelo distúrbio. Logo, é possível que ocorram dificuldades em relações sexuais.

Sono

A insônia é uma das consequências mais comuns. É normal o cérebro do ansioso experimentar sensações ao se deitar que dificultam “pegar no sono”. A mente é invadida por uma série de pensamentos e preocupações, tornando complexo chegar ao estado de relaxamento necessário para dormir.

As noites mal dormidas acabam afetando o funcionamento do corpo como um todo, até mesmo na coordenação motora.
Em casos mais intensos e graves de insônia o uso de medicação é indicado.

Como controlar a ansiedade?

Algumas técnicas de relaxamento e mudanças de hábitos podem ajudar quando os sintomas estiverem aflorados. Apenas é importante ressaltar que elas não substituem o tratamento psicológico e psiquiátrico.

Conheça algumas dicas de como controlar os sintomas a seguir:

  • técnicas de respiração;
  • meditação;
  • dieta equilibrada;
  • exercícios físicos.

Técnicas de respiração

Praticar uma respiração consciente, controlando a inspiração e a expiração, pode ser uma boa maneira de aliviar a intensidade dos sintomas. A execução regular pode tornar essa técnica uma forma simples e rápida de alcançar um estado de relaxamento.

Meditação

A meditação é uma prática milenar utilizada como complemento aos tratamentos de diversos distúrbios mentais. Ela ajuda a se autoconhecer, a ter autocontrole, a relaxar e a se manter no presente.

Assim, existe a possibilidade da pessoa afastar pensamentos negativos, amenizar preocupações excessivas e, por consequência, conquistar uma melhor qualidade de vida.

Questionar os pensamento negativos também uma boa maneira de controlar os sintomas, seja durante ou após a meditação. Aprenda a como fazer isso com o episódio a seguir do podcast Tratando sua Ansiedade:

Dieta equilibrada

Manter uma dieta rica em alimentos nutritivos é uma boa maneira de melhorar a sua saúde mental. De acordo com um estudo realizado no Reino Unido, a ingestão de alimentos considerados saudáveis está associada à redução do estresse e dos sintomas de depressão.

Outra recomendação relevante é ter atenção ao consumo de cafeína e álcool. Em excesso, podem potencializar o estado ansioso e dificultar ainda mais para dormir.

Exercícios físicos

A prática regular de exercícios é mais uma forma eficiente de evitar e de controlar alterações emocionais ou comportamentais.

Segundo uma revisão de estudos publicada na revista científica Clinics, as atividades físicas proporcionam benefícios à prevenção e ao tratamento de transtornos mentais.

No entanto, os autores destacam que os exercícios devem ser realizados da maneira correta e com uma regularidade adequada ao perfil da pessoa. Esses cuidados evitam que os efeitos prejudiciais ao invés de benéficos.

Como tratar a ansiedade?

O tratamento varia de acordo com a intensidade dos sintomas e o estado da saúde mental do indivíduo. Por isso, é fundamental que se procure auxílio profissional. Somente um especialista saberá recomendar o cuidado adequado. A seguir, falamos mais sobre as duas principais formas de tratamento:

  • tratamento terapêutico;
  • tratamento medicamentoso.

Tratamento terapêutico

O tratamento terapêutico é conduzido por um psicólogo, que utiliza alguma abordagem específica para analisar a condição da pessoa e ajudá-la a lidar com os sintomas e as dificuldades impostas.

A partir de uma rotina frequente de conversas, o profissional passa a conhecer com maior profundidade o indivíduo, sendo capaz de auxiliá-lo com mais assertividade.

Aqui, na OrienteMe, você pode ter acesso à uma plataforma com psicólogos especializados no tratamento de ansiedade. Faça um cadastro e inicie o seu atendimento com o profissional mais adequado ao seu perfil e à sua necessidade!

Tratamento medicamentoso

Já o tratamento à base de remédios — como complemento à psicoterapia — pode ser a melhor alternativa para amenizar sintomas em quadros graves. O psicólogo irá encaminhar o paciente para um psiquiatra receitar medicamentos, caso seja necessário.

Qual é a diferença entre psicólogo, psicanalista e psiquiatra?

Na busca pelo tratamento adequado, é importante compreender como diferentes tipos de profissionais podem te ajudar.

O psicólogo é aquele capaz de oferecer suporte especializado, auxiliando a lidar e a superar as dificuldades impostas por transtornos mentais.

Já o psiquiatra entende com profundidade as reações químicas do corpo. Somente esse profissional pode receitar medicamentos para o tratamento de distúrbios mentais. 

E o psicanalista consegue te ajudar a definir e a resolver questões pessoais com base na sua história e no seu contexto de vida.

Inicialmente, o ideal é se consultar com um psicólogo. Ele te encaminhará para outro tipo de profissional, caso haja necessidade.

Como lidar com a ansiedade no ambiente de trabalho?

Como já explicamos, uma pessoa ansiosa pode ter diversas dificuldades durante sua rotina profissional. Por isso, é muito importante que as empresas se esforcem em adotar medidas para promover um ambiente mais saudável.

Quer saber quais providências podem ser tomadas para alcançar esse objetivo? Leia este artigo: Pós-pandemia: como lidar com a ansiedade no ambiente de trabalho?

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